segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

50 anos de revolução cubana. O comunismo de hoje



1 de Janeiro de 1959, Fidel e Raul Castro, Ernesto «che» Guevara e Camilo Cienfuegos desceram da Sierra Maestra tomando Cuba, tornando-se heróis, ícones, e símbolos de esperança para Cuba, e para o mundo. Os ‘barbudos’ (como ficaram conhecidos) trouxeram de volta o misticismo do comunismo e fizeram sentir que valia a pena lutar pelo que se acreditava.
Assumindo-se como Leninista/Marxista, já no poder, Fidel tomou uma posição na política mundial numa altura em que a Guerra Fria ia tendo contornos no mínimo sensíveis. Não se sabe realmente se Fidel era comunista desde os tempos de faculdade, em que diz ter lido a obra de Marx ou se realmente foi uma resposta ao manifesto desagrado que os EUA tiveram para com a revolução, as reformas e as nacionalizações feitas em Cuba por Fidel. Em termos práticos, o comunismo de Fidel fez aquilo que deveria ter sido feito apostar na educação (Cuba tem umas das maiores taxas de alfabetização) e na saúde, sendo este um dos melhores sistemas de saúde do mundo. Por outro lado a liberdade do povo Cubano tem limites, por exemplo só com a recente chegada de Raul Castro ao poder possibilitou que todos cubanos tivessem o direito de aceder á internet e possuir um computador, algo que a nossa geração não imagina possível viver sem.
O modelo de socialismo aplicado em Cuba será como outro qualquer sistema comunista em qualquer outro lado do mundo, um sistema falhado e cheio de lacunas. Se por um lado se acredita na igualdade de valores e de direitos entre todos, se pelo mesmo lado se aceita que as prioridades sociais sejam as mais importantes, por outro lado em termos económicos a esquerda mundial tem estado bastante aquém da ferocidade do capitalismo em voga no ocidente, excepção feita talvez á China. Em termos políticos será complicado acreditar que os comunismos ainda praticados hoje em dia sejam realmente uma democracia. O partido comunista da Rússia e da China estão no poder desde que as revoluções foram feitas, assim como o PCC (partido comunista cubano) está como o único partido legal em Cuba. Mas este caso será um pouco diferente dos demais, Fidel é uma personagem unânime (ou quase) em Cuba e apesar de não haver a obrigação de culto ao líder, parece-me ao que me informei que os cubanos apreciam os ideais e as pessoas de Fidel e do seu irmão. Um caso um pouco á parte mas que não posso deixar de referir é Hugo Chavez, mais uma vez será um pouco como Fidel, visto como ‘salvador da pátria’ Chavez tirou a Venezuela da pobreza e aproveitou todas as suas potencialidades para passar a ser uma potência do continente americano, peca como todos os outros pela falta de democracia e ter arranjado alguns inimigos! No entanto uns dos casos a acompanhar porque realmente as políticas sociais do presidente venezuelano beneficiaram a Venezuela e o seu povo.
Olhando para Portugal teremos então 3 partidos de esquerda com assento parlamentar, 2 deles assumidamente comunistas. O Bloco de Esquerda, o mais recente destes 2, terá surgido em resposta á pouca inovação do Partido Comunista Português que ao que parece tem parado no tempo. O BE no entanto parece me um pouco mais agressivo do que deveria ser, liderado realmente por um grupo de intelectuais com inteligência acima da média, opta por fazer oposição desconstrutiva, por vezes desfasada da realidade. Sendo no entanto, na minha opinião, uma excelente força de oposição e que o seu aparecimento veio em boa altura visto que oposição não será com certeza a que a direita (enfraquecida) portuguesa anda a tentar fazer. O PCP por outro lado não se consegue reinventar, Jerónimo trouxe algo de novo ao que Carvalhas tinha deixado mas pouco mais que isso, o PCP mostrou nos últimos anos, um partido simpático sem dúvida, com o qual eu até me identifico, mas que parou no tempo como já disse agarrado á revolução e a Álvaro Cunhal, dos quais não se deviam esquecer certamente mas sem tirar os olhos do futuro. Como diria o outro de 80 anos amigo do nosso ministro da cultura ‘isto da cintura p’ra baixo é como o comunismo já se foi há muito tempo’, com pena minha mas começo a achar que será verdade.
Em jeito de conclusão, as políticas de esquerda são essenciais para que prevaleça o bem-estar de todos e não apenas de alguns, e penso que mais que uma força política o comunismo deve ser uma maneira de estar e encarar a vida.

PS: Há quem diga que o comunismo e o cristianismo não podem viver simultaneamente, mas… não terá sido Jesus o primeiro comunista ideológico?

2 comentários:

Unknown disse...

Entre duas reuniões acabei por encontrar tempo para ler este seu texto, sr. Ministro.
Concordo plenamente com tudo o que foi escrito. Dizer só que : uma boa democracia vive de uma boa oposição, são coisas que às vezes vão faltando em Portugal.
Cumprimentos.

Ministro da Cultura disse...

Concordo plenamente, Senhor Ministro. Aliás, chego mais longe, admitindo que a oposição - na sua larga maioria - morreu ou está para morrer (a Sra Dona Manuela Ferreira Leite é o melhor exemplo). E a esquerda mais esquerdista parece querer ressuscitar - e nada me admirava que o BE fosse a terceira força política em 2009 (ou alguém acredita no CDS de Paulo Portas?). Temos bons políticos, mas má política e prática política. Que se mantenham os que lá estão, a fazer o seu trabalho e que de lá não os tiremos quando deles mais precisamos - que tem sido sempre o nosso erro. Ou então deixá-los fugir (mas isso é outra história).