Antes de passar ao assunto desta semana, quero agradecer todas as reacções que obtive com o primeiro texto, bem mais do que as que esperava. Estive longe de pensar que iriam ser tantas assim e estive também longe de querer ofender alguém. Criticar sim, ofender não. Parti de uma premissa para uma generalização, penso que era inteligível e espero que tenham percebido isso. Percebam também que só pretendo - bem como muitos outros - que as coisas mudem, que sejamos mais culturais (dentro dos possíveis, é claro).
Esta semana a religião católica em Portugal voltou a marcar pontos. Na sua própria baliza. E a perder certamente mais alguns crentes. O cardeal D. José Policarpo juntou-se à ala ultraconservadora que reina na religião (Bento XVI, o sumo pontífice, anda por aí dizer - em tempos de guerra e crise - que o importante é não ter relações por prazer e que os homossexuais são uma devassa da Natureza): ora o nosso Policarpo veio dizer, e passo a citar, que "as mulheres portuguesas que se casarem com muçulmanos vão-se meter em sarilhos que nem Alá sabe onde acabam". Assim, sem ai nem ui. O "misticismo" que rodeava a igreja esfuma-se com este tipo de declarações. Já muita gente veio defender o cardeal, dizendo que é do conhecimento comum a forma como as mulheres muçulmanas são tratadas (ou maltratadas), mas o que é certo é que muitas vezes as mulheres cristãs e católicas não ficam muito melhor servidas. E palavras assim, deitadas ao vento, dão azo a interpretações várias. A religião já foi um negócio mais bem montado. E também mais poderoso. Agora, que nem partido político da oposição, parecem mais interessados em deitar achas para fogueiras que só a eles lhes interessa reavivar. Uma espécie de "olhem para mim que eu preciso de atenção". Num país em que a violência doméstica e a opressão feminina crescem de ano para ano, penso que a igreja devia olhar para sim mesma, para além do seu umbigo e pensar que "se se casarem com um cristão, vão-se meter em sarilhos que nem Jesus Cristo sabe onde acabam". Não é bonito atirar pedras para telhados de vidro, quando também os tem bem frágeis.
A instituição e negócio que é a igreja começa cada vez mais a deixar vir ao de cima os seus podres e os seus problemas. Este foi só mais um, e o progresso para "Ontem, Hoje e Amanhã" exige-se rápido se não querem perder os cada vez menos crentes existentes por este mundo fora. O fervor religioso católico por vezes parece-me tão fanático como o muçulmano. Não o de todos, mas de uma parte. Vejam o documentário Jesus Camp e vejam lá se até não tenho razão.
Se por um lado a religião parece parada no tempo e na mentalidade, o que não pára mais é o progresso humano e a tecnologia. Esta semana pus as mãos num belíssimo iPod classic, de 120GB (mais que o meu computador), preto, ecrã a cores e leitor de vídeo. Um autêntico mimo para melómanos a sério, que têm gosto à música - e à surdez - e não conseguem deixar de ouvir o que quer que seja durante o dia (também pudera, com 120GB o que não falta é música) e que são vaidosos. O precioso gadget é bem bonito, polidinho e com linhas bem atraentes (até reluz!). É um autêntico fenómeno de vendas, marketing, design... Nada parece falhar!
É incrível como Steve Jobs criou uma marca que é cada vez mais objecto de adoração e idolatração - bem, podemos ver a Apple como uma religião, sim. Eu sou só mais um fã rendido à excelente tecnologia desenvolvida por Jobs, mas antes de mim muitos se seguiram, muitos se renderam e a Apple é das poucas companhias que se orgulha de quase só crescer financeiramente durante o ano, com poucos problemas financeiros e a nível de bolsa. Jobs - que neste momento se debate com um cancro do pâncreas - é um génio tecnológico e a bem ver as coisas também um génio preconizador do futuro. Quando o primeiro iPod de grande volume foi lançado - em 2001, com apenas 5GB ou 10GB - Jobs disse que dentro de 10 anos o belo aparelho ia descer dos enormes 500€ para metade do preço e com pelo menos 10 vezes mais tamanho. "E aí, toda a gente vai querer um!", dizia. Eu pelo menos sei que quero!
NOTA: há que dizer que não sou católico, nem muçulmano. Fico-me apenas pelo ateísmo. Se os ateus amanhã tiverem um comentário infeliz, também o comentarei.