terça-feira, 10 de março de 2009

Portugal é sempre melhor.

Como será do conhecimento de algum de vocês, nos últimos tempos estive a trabalhar em Espanha. A fazer algum trabalho de campo, a sujar as mãos. A ver as grandes ou pequenas diferenças entre o nosso pequeno grande país e o país de "nuestros hermanos".

Foi uma experiência interessante, tenho visto coisas que julgava completamente impraticáveis, que considerava serem de mentes loucas e insanas. Mas que resultam às mil maravilhas. Um grande ponto a favor deste país (Espanha, que como nós está em larga recessão económica), é a facilidade com que se tem acesso à cultura "museísitica". Digo facilidade porque não se me ocorre palavra mais forte. Toda a gente conhece o Museo del Prado (arte clássica, riquíssimo) e o Reina Sofia (arte contemporânea, riquíssimo). E quantas pessoas sabem que estes museus têm entradas gratuitas ao fim-de-semana e aos feriados? Pois, pouca gente, porque normalmente esta seria uma daquelas medidas boas apenas para criar um buraco financeiro do tamanho do da Câmara de Lisboa. Mas não só isso não acontece, como o museu ainda consegue gerar lucro. Primeiro, devido ao excelente apoio que têm do Ministério da Cultura espanhol, que é inacreditável, a fatia orçamental espanhola dedicada à cultura é enorme! Os museus são alvo de grande divulgação, são bem geridos, oferecem boas "promoções", estão bem recheados... Garantem uma tarde bem passada. Ora, já dirão que em Portugal há uns dois dias por ano em que também se entra de graça em museus, que há museus gratuitos, etc e tal. E sim, é verdade tudo isso. Mas podia ser todos os fins-de-semana e feriados. Sem e

xcepção. Mas a cultura é um departamento de há uns anos para cá deixado um pouco de parte. Também já haverão alguns a dizer que também não somos um país assim tão grande que mereça tal investimento. Pois eu digo que somos. E só não somos mais, porque a cultura é por várias vezes deixada de parte, não é divulgada e as pessoas deixam passar ao lado. Por isso é que somos um país com um nível cultural tão baixo. Isso até pode estar a mudar, eu concordo, mas é por iniciativa e interesse próprio de cada um, não porque há um esforço colectivo para isso mudar. Neste caso, faço uma vénia ao malfadado Joe Berardo, por ter o seu museu aberto gratuitamente.
Bem, o exemplo dos museus é apenas um pequeno exemplo de boa divulgação/marketing cultural. Não é preciso andar com muita atenção para vermos os anúncios sobre Espanha que proliferam em publicações nacionais e nas ruas de várias cidades sobre Espanha e a sua cultura. Lá só vi um, do Algarve.

O facto de a cultura ser deixada de parte talvez se deva a más experiências: CCB (pela polémica), Porto 2001 (pelo fracasso organizacional e pela má gestão), Casa da Música (essencial, mas com um deslize inimaginável), os resultados a médio-prazo da Expo 98... E outros maus momentos. O que é certo é que "ignorar" certos cérebros culturais e a cultura no geral, leva a que pouco interesse haja em apostar em Portugal, e esses cérebros a manterem-se em Portugal. Carlos Bica, Maria João Rodrigues, Paula Rego, José Saramago, são alguns exemplos destes impulsionadores que há muito se sentem renegados. E isto tem de mudar ou qualquer dia seremos mais internacionais que nacionais. Claro que devemos dar de nós ao mundo, mas antes de mais deve-se procurar dar de nós ao nosso país.

1 comentário:

Unknown disse...

Interessante como ainda esta semana falei neste tema. Estou de acordo com o caro colega em alguns pontos, noutros pontos nem por isso.

Há um exemplo que me saltou logo ao pensamento: a Fundação Serralves. Mais que impulsionadora da cultura. Aos domingos de manhã a entrada no museu é grátis. Não é um fim de semana inteiro mas ajuda. Qual é o problema de acordarmos num domingo mais cedo e irmos visitar o museu? Por lá já passaram obras de Picasso por exemplo. A Fundação de Serralves recebe cerca de 10 milhões de euros por ano, muito dinheiro. Metade vem do governo. O resto resume-se a bilheteira, organização de eventos, etc...

O Teatro de Vila Real é outro sucesso de cultura. Tem recordes de assistências, compete com os mais consagrados teatros de Portugal, traz artistas mais que importantes para o desenvolvimento da cultura, um grande exemplo para o país.

O grande problema resume-se, penso eu, à DIVULGAÇÃO. É pouca! Muito pouca! Eventos acontecem sem que as pessoas saibam. Ainda no outro dia uma palestra era dada mais ou menos sobre este tema e eu sem saber de nada. Soube na hora porque uma professora me fez questão de dizer.

Penso que a divulgação tem de ser tomada como um ponto fundamental na expansão da cultura.

Cumprimentos! ;)