segunda-feira, 9 de março de 2009

30 anos de crescimento?

Antes de mais, permitam-me que me apresente. É com orgulho e inigualável prazer que fui convidado pelos ministros deste Governo a assumir o cargo de Ministro das Obras Públicas, que executarei com a total e inabalável perseverança e solidez.


Como tema de abertura, elaborei uma reflexão crítica em torno das obras públicas que se têm feito em Portugal. Alias, nos efeitos e nas consequências dessas obras e da atitude dos portugueses perante a execução desses empreendimentos.


As obras, os empreiteiros, os trolhas e os políticos um dia reúnem-se depois do dia aguardado que nos deu a liberdade no meio de cravos e soldados… e Portugal cresceu. Cresceu, e de que maneira, à boa maneira americana, ou então na tentativa de atingir o pragmatismo como os nossos vizinhos do outro lado do Atlântico, ou então talvez mais próximo daquele estereótipo curioso da preguiça alentejana.


A bem ou a mal, o país ribeirinho e saloio da cauda (ou da cara) da Europa, em trinta anos já não parece o mesmo. O lusitano é que não consegue ver. Os novos crescem no limbo do desenvolvimento, o boom da construção incandesceu os olhares furtivos das crianças dos anos noventa e adultos do novo milénio. Os jovens do 25 de Abril afeiçoaram-se aos seus sofás prostrados de ócio e acomodaram-se à vivenda e renault ou Mercedes (isto para as carteiras mais gordas) e o país passou-lhes à frente, como pardal que parece um melro.


Não é que o pardal seja menos afigurado que o melro, mas talvez façamos deste país pior do que já ele é. Sim, isto não é nada de extraordinário, mas no que toca às obras públicas, não há razão de queixa.


O país até tem crescido, a bom ritmo, apesar de algumas carapaças impostas nos corpos ilusoriamente ágeis, mas que sem elas são meros corpos sem vida. Aliás, tudo cresce e desenvolve e o Ministério das Obras Públicas dá luz verde à sinalização do empreendedorismo. Estradas, essencialmente, fazem as nossas delícias, prédios como paralelepípedos com buracos para o luz e para a brisa, em ruas que por labirintos parecem terem sido confundidas.


Sim, tudo cresce sim. É belo o crescimento. A estatística mostra e fala por si nos prelúdios da imprensa, que até prova que este Portugal cresce. E desenvolvimento e capacidade de organização? Será que o país cresceu com desenvolvimento no sentido de proporcionar uma melhor qualidade de vida, tanto do ponto de vista prático, como do ponto de vista estético, para tirar partido desse equilíbrio de forças?


É melhor ir tirar essa pasta da gaveta, ou então vale mais estar quieto.

1 comentário:

Unknown disse...

Caro ministro, é com grande admiração e orgulho que lhe dou as boas vindas a este governo!
Apresentou um tema ao qual realmente é necessário uma reflexão. Que Portugal tem crescido, disso não temos dúvidas, agora será que realmente há organização neste crescimento?

Parabéns e continuação de um bom trabalho! ;)